sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Diretor da Azul promete tarifas inferiores às de ônibus

A Azul Linhas Aéreas espera começar a vender passagens dentro de dez dias e, a partir de 15 de dezembro, iniciar a operação no País com quatro vôos partindo do aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP), e destinos em Salvador (BA), Porto Alegre (RS), Curitiba (PR) e Vitória (ES). O diretor executivo da empresa, David Neeleman, prometeu que a empresa terá faixas tarifárias com preços inferiores ao valor cobrado em viagens de ônibus para o mesmo trecho.


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"E, mesmo quando forem mais caras, vai compensar viajar de avião. Se você vai de ônibus de São Paulo para Salvador, tem que comprar o frango assado também, pois a viagem demora 33 horas", disse o diretor executivo da Azul, David Neeleman, em entrevista concedida na última terça-feira, em Ribeirão Preto.

Segundo a companhia, vôos diretos entre Curitiba e Vitória também deverão começar ainda neste ano.

Filho de americanos e nascido em São Paulo, Neeleman ficou multimilionário aos 32 anos, quando a Morris Air, empresa da qual foi co-fundador, no início da década de 1980, foi vendida à Southwest Airlines por US$ 130 milhões. "Podia me aposentar. Mas quando cheguei em casa e vi a mulher com os cinco filhos, decidi: não vou me aposentar", brincou o empresário, que hoje tem 49 anos, nove filhos "entre nove e 27 anos", sendo sete meninas, e um neto.

Missionário da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, Neeleman foi o responsável pelo desenvolvimento da tecnologia de viagens sem bilhete, ainda na Morris, e fundou a JetBlue em 1989. Hoje, a companhia tem 140 aviões e fatura US$ 3,5 bilhões por ano, segundo ele.

Em março deste ano, Neeleman anunciou a criação da Azul no Brasil. Com capital de US$ 200 milhões, a empresa tem encomendas firmes de 36 jatos da Embraer e mais 40 opções de compra.

Confira a entrevista com o diretor executivo da Azul:

Como será o início da operação da Azul?


Neeleman - A partir de 15 de dezembro, vamos colocar ônibus confortáveis que sairão de São Paulo toda hora e chegarão a Campinas em uma hora. Ou seja, o mesmo tempo que você gastaria para chegar em Guarulhos. Os passageiros poderão fazer o check-in dentro do ônibus e embarcar no avião assim que chegarem no aeroporto. Estamos montando a estrutura para isso. Os ônibus deverão sair de um shopping center perto de Alphaville.

As tarifas já estão definidas?


Nossa tarifa mais barata entre Campinas e Salvador custará menos do que uma passagem de ônibus, no valor de R$ 218. Só que de ônibus a viagem demora 33 horas e de avião, duas horas e 15 minutos. Mesmo quando nossas tarifas forem mais caras do que as passagens de ônibus, vai compensar viajar de avião. Se você vai de ônibus, tem que comprar o frango assado também. Ou seja, o passageiro do ônibus terá outras despesas que não vai ter dentro do avião.

Como o senhor avalia o mercado de transporte aéreo no Brasil hoje?


O Brasil tem muito pouco serviço aéreo e as tarifas são muito altas. Por isso o mercado é muito pequeno. Aqui, 80% das pessoas viajam a trabalho e 20% a lazer. Nos Estados Unidos, onde o mercado é 20 vezes maior, acontece o oposto: 20% viajam a trabalho e 80%, a lazer. As tarifas aéreas nos Estados Unidos são mais baratas do que as de ônibus no Brasil para distâncias equivalentes. No Brasil, o mercado aéreo tem de crescer em ambos os segmentos, mas mais rapidamente nas viagens a lazer.

Quais suas previsões para 2009?


O mercado brasileiro de aviação deve crescer em 2009 mais do que os 6% previstos. Aqui (a médio e longo prazos), o mercado deve ser duas a três vezes maior do que é hoje. Não cresce mais porque não tem serviço aéreo ligando cidades importantes sem escala. Se você tem serviço, tem mais movimento. Tem muita gente que quer viajar de avião. Mas não tem vôos e, quando tem, as tarifas são muito altas.

A redistribuição de operações no aeroporto de Congonhas prejudica a Azul?


Infelizmente, vai demorar para a gente operar em Congonhas. O que aconteceu com a gente em Congonhas foi muito mau. Depois do acidente horrível com o avião da TAM, há pouco mais de um ano, o governo teria de fazer alguma coisa. Então eles baixaram o número de vôos em Congonhas. De fato, o acidente não tinha nada a ver com isso. Nada a ver com a pista. Nossos aviões têm kits adicionais de segurança. Gastamos muito em segurança e temos muita confiança de que podemos operar em Congonhas. Nós esperamos que aumentem os vôos no aeroporto para que possamos operar a partir de São Paulo.

Mas há problemas de infra-estrutura no terminal?


Todo mundo fala sobre os problemas de infra-estrutura no Brasil, mas ninguém sabe o que é isso. Eu levo vocês para Nova York para vocês verem o que é problema de infra-estrutura. No verão, à noite, tem mais aviões esperando para decolar do que em todo o Brasil. Tem mais de 250 aeronaves esperando quatro horas para sair. Aqui, precisamos aprender a usar melhor a infra-estrutura disponível, senão pára tudo. Se São Paulo precisa de um novo aeroporto, temos que começar hoje a planejar isto.

O que pode ser feito para aumentar a demanda por vôos?


Precisamos de aeroportos centrais nas capitais e serviços nas cidades importantes do interior. Se você fechar, por exemplo, Santos Dumont, no Rio, e Congonhas, em São Paulo, e fazer a ponte aérea usando Guarulhos e Galeão, você acha que haverá mercado? Lógico que não. Hoje, o movimento aéreo entre as duas cidades é de 12 mil pessoas por dia. É o quarto maior mercado do mundo. Por que tem esse movimento num País em quase ninguém voa de avião? Porque tem os aeroportos que a gente quer, tem serviços, tem 78 vôos por dia. E ainda tem tarifas muito altas! Se fecharem os aeroportos centrais, esse movimento cai para 3 mil pessoas por dia. Tem que ter aeroportos nas cidades. Há capacidade para o mercado crescer, mas tem que parar de fechar o mercado.

Por que escolheu o Brasil para investir?


Eu nasci aqui e tenho muito amor por este País. Aos cinco anos fui para os Estados Unidos e depois voltei e trabalhei anos como missionário aqui. Por que não China ou Índia? Se fosse China ou Índia, eu ficaria em casa. Eu não estou aqui porque preciso de dinheiro, mas porque amo este País. Sempre quis voltar para cá. E quero dar uma oportunidade para as pessoas daqui, para os nossos clientes e para nossos tripulantes, que trabalharão na melhor empresa do País.


Fonte: Invertia/Terra

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